Como transformar descontos em lucro na Black Friday
A Black Friday se consolidou como uma das maiores oportunidades comerciais do ano. É o momento em que consumidores estão prontos para comprar e empresas buscam expandir vendas, conquistar novos clientes e liquidar estoques. Porém, há uma armadilha que muitos empreendedores ainda caem: acreditar que vender muito é o mesmo que lucrar muito. Descontos mal planejados podem gerar picos de vendas, mas também margens negativas, estoques desequilibrados e fluxos de caixa comprometidos. Por outro lado, quando a promoção é estruturada estrategicamente — com base em dados, planejamento contábil e análise de rentabilidade — ela se torna um poderoso motor de crescimento sustentável.
Neste artigo, você vai entender como transformar descontos em lucro real, planejando promoções inteligentes, rentáveis e alinhadas à saúde financeira do negócio.
O mito do desconto: vender mais nem sempre é lucrar mais
Durante a Black Friday, o comportamento do consumidor muda: ele busca descontos agressivos, compara preços e toma decisões rápidas. Isso faz muitos empreendedores entrarem em uma corrida para oferecer os menores preços, acreditando que o volume de vendas compensará qualquer perda de margem. Mas, na prática, não é bem assim.
Imagine o seguinte cenário:
- Um produto custa R$ 70,00.
- Ao oferecer 20% de desconto, o produto passa a ser vendido por R$ 60,00.
- Resultado: o empreendedor perde R$ 10,00 por unidade vendida.
Mesmo que venda centenas de unidades, o prejuízo se multiplica.
Esse erro é comum e ocorre por falta de planejamento contábil e precificação estratégica.
O desconto com inteligência é essencial, não apenas “baratear”.
A base de uma promoção lucrativa: entender custos e margens
Para planejar promoções que realmente geram resultado, o primeiro passo é dominar seus números.
Sem conhecer o custo real de cada produto ou serviço, qualquer desconto é um tiro no escuro.
Custo real de produto
Inclua todos os custos diretos e indiretos:
- Custo de aquisição ou produção
- Impostos e taxas de cartão
- Comissão de marketplaces ou vendedores
- Frete e embalagem
- Armazenagem, logística e devoluções
- Custo de marketing e anúncios
Quando você soma tudo, descobre que o “lucro” aparente pode ser menor do que parece — ou até inexistente.
Margem mínima de segurança
Estabeleça um limite: qual é o desconto máximo possível sem comprometer o lucro líquido?
Por exemplo, se o custo total é R$ 70,00 você não poderá praticar descontos que traga um resultado inferior a esse valor.
Essa clareza evita decisões impulsivas e permite definir faixas de desconto estratégicas por categoria ou produto.
Planejamento contábil: o aliado invisível das promoções inteligentes
Muitos veem a contabilidade como um setor burocrático, mas na Black Friday ela é um dos pilares da estratégia comercial.
Um planejamento contábil bem feito ajuda a visualizar o impacto financeiro real das promoções antes que elas aconteçam.
Simulações de cenários
Com o apoio do contador, o empreendedor pode simular diferentes cenários:
- O que acontece se as vendas crescerem 50%, mas as devoluções aumentarem 10%?
- Qual será o impacto no caixa se você oferecer frete grátis em todas as compras?
- Qual regime tributário é mais vantajoso mesmo com o aumento do faturamento?
Essas simulações antecipam riscos e ajudam a ajustar preços, margens e estoques.
Fluxo de caixa projetado
Durante a Black Friday, há um aumento expressivo de entradas (vendas) e saídas (estoque, marketing, logística).
Sem um controle de fluxo de caixa detalhado, a empresa pode ficar sem liquidez para pagar contas no mês seguinte.
O planejamento contábil permite prever picos e quedas de caixa e evitar crises pós-evento.
Estratégias de desconto: menos emoção, mais inteligência
O segredo de uma Black Friday lucrativa é saber para quem, quanto e em quais produtos oferecer desconto.
A seguir, alguns princípios de precificação inteligente:
Descontos estratégicos por categoria
Nem todos os produtos devem ter o mesmo percentual de desconto.
- Produtos com alta margem podem sustentar descontos maiores.
- Produtos de baixa margem podem ter promoções mais simbólicas (frete grátis, combos, bônus).
- Produtos de giro lento podem ter desconto para liberar estoque, desde que não gerem prejuízo.
Use o desconto como porta de entrada
Você pode usar produtos “isca” — com descontos mais agressivos — para atrair tráfego e impulsionar vendas de itens complementares com margens melhores.
Campanhas de valor agregado
Nem toda promoção precisa ser sobre preço.
Você pode gerar percepção de valor oferecendo:
- Frete grátis acima de determinado valor
- Brinde exclusivo
- Acesso antecipado a novos produtos
- Cupons para recompra
Essas estratégias reduzem a guerra de preços e fortalecem a relação com o cliente.
Comunicação e percepção de valor: o poder da psicologia de preço
Um desconto é mais do que um número — ele é uma mensagem emocional.
O consumidor reage à percepção de vantagem, não necessariamente à economia real.
Use âncoras de preço
Exibir o preço original riscado ao lado do preço promocional aumenta a percepção de economia.
Exemplo: “De R$ 299,00 por R$ 199,00” gera mais impacto do que apenas “R$ 199,00”.
Descontos progressivos
Crie gatilhos que incentivem o aumento do ticket médio:
- “Compre 2, leve 3”
- “10% off na primeira compra, 20% off acima de R$ 300,00”
- “Frete grátis para compras acima de R$ 250,00”
Assim, o desconto incentiva o volume, mas ainda preserva o lucro.
Escassez e urgência
Elementos como “últimas unidades”, “oferta por tempo limitado” e “exclusivo até hoje” geram senso de urgência.
Mas atenção: use com transparência. Promessas falsas prejudicam reputação e podem ter impacto jurídico e contábil.
O papel dos dados: decida com base em números, não em achismos
Empresas que dominam seus dados conseguem planejar promoções com precisão.
Para isso, use informações de vendas anteriores, ticket médio, produtos mais buscados e taxa de conversão.
Indicadores que não podem faltar
- Margem de lucro por produto
- Custo de aquisição de cliente (CAC)
- Retorno sobre investimento (ROI) de campanhas
- Taxa de devolução e cancelamento
- Giro de estoque
- Lucro líquido por canal de venda
- Ponto de equilíbrio
- Margem de contribuição
Com esses indicadores, é possível identificar quais produtos sustentam promoções e quais devem ser evitados.
Integração entre setores
Dados de marketing, vendas, compras, financeiro e contabilidade precisam conversar.
Sem integração, o negócio pode vender bem, mas perder dinheiro.
O uso de ERPs ou planilhas integradas é essencial para manter controle de ponta a ponta.
Planejamento fiscal: o que muitos esquecem
O sucesso da Black Friday pode trazer uma surpresa desagradável: aumento da carga tributária.
Muitos empreendedores não percebem que o crescimento no faturamento pode alterar faixas de tributação, como no Simples Nacional.
Reavalie o regime tributário
Com o contador, simule como o aumento de faturamento da Black Friday impacta os impostos.
Às vezes, uma pequena variação nas vendas pode elevar o percentual de imposto significativamente.
Antecipar isso evita sustos no pós-evento.
Emissão correta de notas fiscais
Em meio ao volume de vendas, é comum erros de emissão fiscal.
Isso gera multas, retrabalho e afeta o controle contábil.
Um bom sistema de gestão fiscal evita falhas e garante conformidade.
Pós-Black Friday: o lucro real está na análise
O planejamento não termina na sexta-feira.
O verdadeiro aprendizado acontece depois, quando você analisa o desempenho da campanha.
Avalie resultados por produto e canal
- Quais produtos tiveram melhor margem?
- Quais canais (loja física, e-commerce, marketplace) foram mais rentáveis?
- Quais descontos atraíram novos clientes e quais apenas reduziram o lucro?
Essa análise define o que repetir — e o que corrigir — nas próximas campanhas.
Calcule o lucro líquido final
Apenas somar o faturamento não mostra o sucesso.
Considere:
- Custos de estoque e marketing
- Impostos e taxas
- Devoluções
- Fretes subsidiados
- Descontos adicionais e demais custos e despesas
O lucro líquido é o indicador mais fiel para medir se sua Black Friday valeu a pena.
Use o aprendizado como ativo estratégico
Registre dados, crie relatórios e transforme erros em aprendizado.
A cada ano, sua Black Friday será mais precisa, lucrativa e previsível.
Checklist prático: como planejar promoções que geram lucro
Antes de lançar qualquer promoção, passe por este checklist:
- Conheço o custo real de cada produto (incluindo taxas e frete).
- Sei qual é minha margem mínima de lucro aceitável.
- Simulei diferentes cenários de vendas e impostos.
- Tenho fluxo de caixa projetado para suportar o aumento de volume.
- Defini produtos “isca” e produtos de margem alta para equilíbrio.
- Estabeleci limites claros de desconto.
- Comuniquei o valor da promoção de forma clara e transparente.
- Integrei contabilidade, compras, financeiro, marketing e vendas no mesmo planejamento.
- Preparei o pós-venda (logística, atendimento, devoluções).
- Criei métricas para medir o resultado real da campanha.
Se todos esses pontos estiverem cumpridos, você tem muito mais chances de converter desconto em lucro.
O equilíbrio entre volume e rentabilidade
A Black Friday pode — e deve — gerar volume de vendas.
Mas o foco deve ser o crescimento rentável, não o crescimento a qualquer custo.
Empresas sustentáveis sabem equilibrar descontos inteligentes e margens preservadas.
O desconto certo, no produto certo, para o público certo, é o que transforma a Black Friday em uma alavanca de lucro e não em uma armadilha financeira.
Conclusão
A Black Friday não é apenas sobre “vender mais”, mas sobre vender melhor.
O empreendedor que entende isso usa o desconto como ferramenta estratégica — não como arma de desespero.
Do desconto ao lucro, o caminho passa por:
- Conhecimento dos custos e margens;
- Planejamento contábil sólido;
- Estratégia de precificação baseada em dados;
- Comunicação clara e transparente;
- Avaliação detalhada dos resultados.
Quando a promoção é pensada de forma estratégica, ela gera lucro, fidelização e posicionamento de marca — três pilares que duram muito além da Black Friday.

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